O que um autor faria ou seria capaz de fazer para ser lido? Seria ele capaz de usar, de se esconder por trás de uma outra pessoa? Não estamos falando de um ghost writer, mas de uma pessoa extremamente talentosa e que nos tempos atuais não teria problemas, ou pelo menos este, ao ter o seu nome estampado nas capas dos seus livros.
O que esta autora fez ou sentiu-se obrigada a, foi em uma época em que poucas mulheres se arriscavam a autorar seus próprios livros. Usou o próprio marido como autor por toda uma vida, mas a conta chega. Ela não suportou mais não ter seu talento reconhecido e, mais ainda e principalmente por seu algoz, o marido, o autor reconhecido. O ego e a vaidade do marido não permitem dividir o reconhecimento do público. Ele também usou a voz da mulher como sua própria. Um usando o outro em um jogo de autoria em que o leitor, esse sim, foi o inocente da história.
A arte imita a vida
Grandes Olhos (Big Eyes, 2014)
O roteiro de “A Esposa” (The Wife, 2018) lembra em grande parte outro roubo de autoria. A talentosa esposa assina as suas telas como Keane, que é o sobrenome do marido. Rapidamente ele vê a oportunidade e usurpa a identidade da esposa, tornando-se ele o autor das obras de arte. Da mesma forma que na outra história a mulher suporta por muitos anos as seguidas humilhações até que não pode mais sufocar o que é maior do que ela e toma coragem para expor seu algoz e libertar a autora verdadeira.
Como é fascinante o mundo da autoria. Reconhecer o enorme papel dos autores é imprescindível para a perpetuação da cultura.