“Pasele” disse o guarda com um fuzil empunhado em mais uma das diversas barreiras da Polícia Federal que enfrentamos na “carretera” entre Querétaro e Guadalajara, em um enredo que remetia à série Narcos sobre Pablo Escobar, a qual acabara de assistir recentemente.
Ao embarcar em São Paulo com destino à Feira do Livro de Guadalajara nunca poderia imaginar a aventura que seria chegar ao destino final no dia seguinte. Talvez a turbulência durante o voo pudesse ser o prenúncio de que alguma surpresa viria. No voo estava o meu companheiro da aventura do dia seguinte, o presidente da entidade que eu representaria na feira.
Sem teto para pousar na Cidade do México o avião pousou em Querétaro, uma cidadezinha sem estrutura. Algumas horas a mais de espera dentro do avião foram suficientes para especular com os cidadãos mexicanos sobre o melhor meio para chegar a Guadalajara. Voltar de ônibus com todos os passageiros para a Cidade do México e ainda ter que aguardar a conexão, nem pensar. Muito incerto e demorado. Foi quando cogitamos olhar no mapa a distância para Guadalajara e como seria ir direto para lá.
Alugar o carro foi fácil. O vendedor elogiou as estradas e não emitiu nenhum alerta por óbvias razões. O carro real também era bem pior que o da fotografia que ele havia mostrado.
Para chegar ao destino dependeríamos do waze, que por sua vez depende dos gadgets para funcionar, que ainda precisam de eletricidade. Falei aos meus 2 companheiros de viagem (ah o terceiro passageiro era um autor e editor que resgatamos no aeroporto quando este estava reclamando com um agente da companhia aérea sobre a solução que estavam oferecendo): deixem comigo, tenho bateria no Ipad, Iphone e no Macbook. “Você parece o Ciborg envolta com toda esta tecnologia”, fui advertida. Sem a possibilidade de usar o carregador do carro aos poucos as baterias foram acabando. Afinal, das 4h previstas para a viagem, passamos a quase 8h de viagem.
Ninguém falou sobre o trânsito em quase todo o percurso, os inúmeros trechos em obras, as diversas barreiras da polícia federal, além da dificuldade em encontrar um simples local para um lanche ou para abastecer.
Por outro lado, foi uma experiência incrível. Conhecer pela primeira vez um país desta forma, adentrando-o abruptamente em seu interior, conhecer termos e costumes locais, além de paisagens típicas, fazem valer o inesperado.
As placas ao longo da autopista ou carretera repetiam “Casseta de cobro” e logo em seguida aparecia um pedágio. Após umas boas risadas deduzimos do que se tratava. E assim foi com alguns outros termos em espanhol.
As conversas, durante a viagem, giraram em torno, logicamente, de livros, editoras e da vida em geral. E isto também tem um valor incrível que o dia a dia corrido muitas vezes não permite. Não deixa de ser uma viagem ao nosso mundo interior.
São e salvos, mesmo que exaustos, ao final restou em mim uma vontade enorme de contar para o meu amor esta história e dizer a ele: “pasele” e corra que a vida passa em um instante. Vamos logo viver o que sonhamos juntos.