A historia a ser contada é real mas os personagens fictícios.
Sandra é uma profissional liberal, pequena empresária, que realizou o sonho de se formar e buscar uma vida melhor. Nesta fase da vida queria realizar mais um sonho, aquele que muitas mulheres também desejam, que é casar de véu e grinalda, fazer uma festa linda e ser feliz ao lado do homem há muito idealizado. Há 4 anos ela acreditou que o tivesse conhecido. Paulo Dugolp, sobrenome que soava francês, era funcionário em uma empresa, um pouco mais velho, tinha carro e era muito bonito. Sandra se apaixonou. Quando o namoro completou 6 meses Paulo a pediu em casamento. Sandra não acreditava, parecia flutuar de tanta felicidade. Durante estes meses iniciais ela o introduziu na família, com a qual é muito ligada. Paulo, por outro lado, quase não falava da família e nunca a levou para conhecer qualquer parente. Sandra continuava cada vez mais apaixonada, entorpecida por aquele principe dos sonhos. Às vezes se perguntava se tinha o direito de ser tão feliz. Sandra o levou para conhecer o negócio dela com outras duas sócias, falavam de dinheiro, das economias dela para comprar um apartamento. Com a aliança de noivado na mão direita começaram a planejar a vida a dois e o casamento. Paulo falou que precisariam comprar um apartamento, algo dos dois para começarem a vida. Nada como o compromisso de comprar juntos um imóvel, um ano e pouco antes de casarem. Quer demonstração maior de amor por parte do Paulo, comentava Sandra com as amigas que diziam: mas já? Encontraram o imóvel que realizaria o sonho de ambos. Paulo cuidou de toda a papelada, afinal Sandra nunca gostou desta parte e confiava cegamente em Paulo. Um belo dia ele trouxe mais papéis para Sandra assinar. Ela não hesitou e assinou todos. Mal sabia que assinaria a morte de um sonho, de uma ilusão. Alguns meses se passaram, começaram a pagar as prestações. Como ela tinha mais economias ficou com a parte mais pesada, a entrada e grande parte das parcelas. Encomendou o vestido para o casamento, reservaram o buffet, a igreja, encomendaram os convites, escolheram e convidaram os padrinhos. Faltando 6 meses para o casamento combinaram de sair naquela sexta-feira, como em todas as anteriores. Paulo viria buscá-la em casa. Ela colocou aquele vestido que ele gostava tanto, se perfumou e maquiou cuidadosamente imaginando quantas noites como estas teriam quando estivessem casados, finalmente juntos sob o mesmo teto. Paulo estava atrasado. Sandra sentou-se com a familia à mesa, ficaram conversando enquanto Paulo não chegava. A conversa sempre girando em torno do casamento e todos os preparativos. Sandra olhou no relogio e, para sua surpresa, Paulo estava duas horas atrasado. Ligou no celular dele. Deu caixa. Enviou torpedo, deixou diversos recados e nada. Silencio total. Silencio que perdurou todo o final de semana. No domingo Sandra não aguentou de tanta ansiedade e bateu na porta da casa dele. Para seu espanto ele mesmo abriu. Ele saiu para atende-la. Não a recebeu com um beijo. Estava frio. O que esta acontecendo Paulo?, perguntou Sandra já segurando as lágrimas. Aconteceu que está tudo acabado. E assim sem um porquê ele simplesmente disse, sem floreios, que o único objetivo dele era conseguir um apartamento e que havia conseguido e que então tudo estava acabado. Sandra então lembrou-se dos papeis que havia assinado sem ler. Naquele momento assinou que em caso de rompimento o apartamento seria somente do Paulo. Que inferno Sandra viveu a partir deste episodio. A depressao foi o menor deles. Nao quis processá-lo, pois não queria enfrentá-lo nos tribunais. Apenas lutou e luta para esquecê-lo há dois anos. Nesta historia fica muito forte o que as pessoas são capazes de fazer por amor. Assim, quando li hoje no jornal que a nutricionista Gabriela, segundo uma testemunha, assumiu o lugar do namorado na direção da Land Rover que capotou e matou um pedestre, podemos entender que há muitas Sandras e Gabrielas prontas a transformar o homem real no ideal a que custo for, pagando o preço por isso, algumas com a liberdade, a paz de espirito e a própria consciência, misturando o certo e errado, a verdade e a mentira, em um turbilhão de sentimentos destruidores. Sonia Abrão descreve vários outros casos no livro “Abaixo a Mulher Capacho”, sendo um deles a historia da Maria da Penha que dá o nome à lei sobre violência domestica.